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Tuesday, July 01, 2003

vejam so q texto absurdo saiu no jornal extra domingo passado:


"Você já foi a uma festa rave? Sabe o que é? Pois essa festa, com nome estranho, música de gosto duvidoso e que pode durar até 72 horas, é a grande sensação do momento. Vem fazendo a cabeça dos jovens - muitos ainda adolescentes - e deixam os seus pais à beira de um ataque de nervos. No Rio de Janeiro, mais especificamente, o cardápio desses eventos psicodélicos é vasto nos fins de semana. Estive em uma dessas festas, no último dia 19, para mostrar o que se passa nesse lugar sombrio, onde a música eletrônica, o sexo fácil e as drogas, especialmente o ecstasy, são as principais iguarias.

Bailes funk, forrós, micaretas, quadras de escola de samba, rodas de pagode, shows de blues, jazz, rock’n’roll, salsa, tudo. Ou quase tudo. Pois é, faltava uma rave na minha vida. A música eletrônica, o trance, particularmente, não me animava a ir a uma dessas tão badaladas festas. Pois quando a pauta surgiu, falei: "Quero fazer". Era a chance de ver de perto o que eu tanto ouvia e lia a respeito.

Saí de casa com uma roupa normal (camisa e calça básicas). Lá descobri que todas as roupas são normais numa rave. A moda, entre os homens, é o gorro na cabeça; entre as mulheres, saias curtas e botas fazem certo sucesso. O frio, porém, exige camisas de mangas compridas para todos. E os mosquitos também atacam quem se atreve a usar camiseta. Os óculos escuros e os piercings são uma marca registrada. Também são variados: nas orelhas, no nariz, na língua, nos lábios, no peito, na sobrancelha, no umbigo e até um pouco mais embaixo...

Era pouco mais da meia-noite quando parti rumo à Estrada dos Bandeirantes, em Vargem Pequena, Zona Oeste da cidade. Lá acontecem os principais eventos desse tipo. É um lugar afastado, escuro, ou seja, ideal: a música não incomoda ninguém e ninguém incomoda quem pretende dançar alucinadamente.

A distância é considerável (35 quilômetros do Centro), mas até que encontrei rapidamente o lugar. Só que cheguei cedo demais. Já sabia que essas festas ignoravam o nascer do sol. "Mas 1h da matina?!", pensei, "Tá bom". Que nada! Só três carros haviam chegado antes. Fiquei preocupado, mas o guardador foi o primeiro a tentar me tranqüilizar.

- Está vazio porque está cedo, chefia. Esses caras são malucos, chegam aqui às cinco da manhã. Outros chegam às 8h. Pode parar que vai ser bom, é muita mulher doideira - disse.

Resolvi esperar. A conversa com duas gaúchas que panfletavam divulgando outras festas me fez entender alguns detalhes básicos de uma rave. Em primeiro lugar, você tem que deixar qualquer tipo de preconceito de lado. Se você se assusta ao ver um casal do mesmo sexo, não vá. Esqueça! E essa foi exatamente uma das primeiras cenas que testemunhei. Mal cheguei e logo vi duas meninas bonitinhas atravessando a rua, sozinhas. Eram namoradas, de dar beijo na boca e passear de mãos dadas.

- Nós estamos em 2003, meu filho! - alertou uma das gaúchas, gente finíssima por sinal.

Eram quase 2h30m quando resolvi entrar. O lugar já estava bem mais movimentado. Paguei R$ 30 (preço médio cobrado nas raves), recebi uma pulseira e passei pela tradicional revista. Nos meus bolsos, documentos, a chave do carro e um drops de bala, que o segurança nem fez questão que eu mostrasse. A festa era dentro de um sítio. Da porta até a pista de dança, andei uns seis minutos. Nesse momento, tive a certeza de que se tratava de uma festa diferente de todas as que tinha freqüentado até então.

O caminho era por dentro do mato, sombrio, que me fez lembrar a floresta do filme "A bruxa de Blair". O único facho de luz vinha da lua. Ao lado da piscina vi uma tenda montada com uma decoração esotérica. Triângulos, estrelas, luzes roxas em néon. As esteiras e as gigantescas almofadas tinham várias utilidades. Alguns se dedicavam à meditação; outros à carne mesmo...

Segui meu caminho (escuro, é bom lembrar) até a pista de dança. A essa hora, umas 400 pessoas dançavam sem parar. Aliás, dançar trance é até fácil. Basta movimentar braços, pernas, cabeça e pronto. A batida "tum, tum, tum" se encarrega do resto.

A pista era improvisada no meio do nada. As dezenas de árvores que, na minha cabeça, pareciam atrapalhar os que queriam dançar, faziam parte da decoração. À esquerda, um lago me fez lembrar o Cristal Lake, onde o Jason, da série "Sexta-feira 13", gostava de atacar.

A festa chamava-se Private Dreams (sonhos privados). E só por saber o nome do evento consegui entender o restante da decoração. Além do jogo de luzes coloridas, os filtros dos sonhos completavam a fantasia dos que ali estavam. O DJ, que não parou de tocar um segundo sequer, ficava num palco à frente de uma outra tenda. E, na pista, que misturava grama, areia e um insuportável cheiro de cocô de cavalo (afinal, a festa era dentro de um sítio), ninguém ficava quieto. O que também é fácil de entender.

Primeiro, por que o som não deixa. Segundo, por que boa parte das pessoas ali estava aditivada. Uma das minhas curiosidades era saber como denominar essa tribo. Seriam os raveros?

- Nos EUA são ravers. Aqui é louco mesmo - explicou uma simpática moça que ganha a vida vendendo cordões, brincos e pulseiras de néon, uma febre entre os freqüentadores de rave.

No dicionário em inglês descobri ao menos o significado da palavra rave: delírio; fúria; proferir palavras incoerentes; enfurecer; ser louco por; falar com demasiado entusiasmo.

Denominar todos os freqüentadores de rave de loucos drogados, porém, é injusto e até mentiroso. Mas é absolutamente verdadeiro dizer que a maioria esmagadora embala a noite com uma bala na língua. Bala é o apelido do ecstasy, a droga do amor. Custa entre R$ 40 e R$ 50, mas depois de uma batida policial numa rave em Niterói, há duas semanas (21 pessoas foram detidas por consumo ou tráfico), a venda ficou bem mais cautelosa.

- Eu até consigo arrumar para você, mas depois daquela parada que aconteceu em Niterói, o pessoal ficou meio preocupado - disse uma lourinha, de uns 20 anos, que saiu de Petrópolis com um grupo de amigos e dançava alucinadamente: - Enjoei de bala. Esse som já é a minha droga. Prefiro beber e fumar um baseado que já fico legal.

Ao redor da pista, debaixo de algumas árvores, os carros estacionados escondiam o que acontecia por trás dos vidros escurecidos pelas películas protetoras. Obviamente, alguns casais optaram pela privacidade do carro à exposição da tenda.

Por toda parte via personagens que me impressionavam. Duas louraças lindas e elegantemente vestidas rodavam de um lado para o outro. Esbarravam nas pessoas. De tão alucinada, uma delas não se agüentou e caiu no chão. Sorte que do cocô do cavalo só havia o cheiro. Calmamente, ela se levantou e seguiu seu caminho. Às gargalhadas.

Outro que prendeu minha atenção foi um sujeito com traços orientais e já um pouco mais velho do que a média, beirando os 40 anos. Uma figura: a mistura física do velho roqueiro Serguei com o Nakamura, atacante da seleção japonesa. Ficou horas dançando. Depois, foi para atrás de uma árvore, acendeu um baseado, fumou e voltou para dançar. Sempre sozinho. Ali perto, uma outra menina dançava como estivesse se debatendo, num estado epilético musical. Os dentes trincados davam a pista de que estava doida de bala.

Via também um senhor que nada tinha a ver com o que acontecia ali dentro. Com um saco preto nas mãos, ele estava à procura de latas de cerveja para catar e depois ganhar um trocado qualquer revendendo-as. Pobre homem. Uma festa rave, definitivamente, não é o lugar ideal para um catador de latas.

Olhando em volta, reparei que quase todas as pessoas estavam com uma garrafa plástica d’água em punho. E o saco do catador se manteve praticamente vazio.

- O ecstasy causa desidratação, dá uma sede absurda, mas não se pode beber álcool. Essa combinação pode ser fatal. Por isso, todo mundo bebe água, que chega a custar até R$ 5 - me explicou um jovem estudante de administração, já experiente nesse tipo de festa: - Existem dois tipos de rave. Uma com bala, outra sem. Se você toma, a festa tem um efeito. Se não toma, a diversão não é a mesma. Essa música pede para você ficar alucinado.

Na festa em que o ecstasy e a maconha rolam à vontade, a paz é uma característica marcante. Logo que entrei, notei que havia muito mais homens do que mulheres lá dentro. Pensei: "Pronto. Como quase não tem mulher, esses playboys não vão demorar muito a sair na porrada".

Me enganei redondamente. A paz reina absoluta: característica básica do ecstasy, que, segundo os livros de medicina, eleva o humor, aumenta a autoconfiança e traz sensação de paz e empatia entre as pessoas.

Quase seis da manhã, me dei por vencido. Já tinha visto o suficiente e resolvi ir embora. Na porta de entrada e saída me deparei com a última realidade de uma festa rave: havia uma fila para entrar. Fui para casa e dormi até quase meio-dia. Acordei, olhei o relógio e me lembrei: a festa ainda estava rolando solta."

*foi escrito por um tal de leslie, tem nome de mulher, mas nao passa de um reaça. Z